Os investigadores das universidades de Filosofia de Milão e de Melbourne argumentam no artigo 'After-birth abortion: Why should the baby live?' ('Aborto pós-parto: Porque deve o bebé viver?') que um feto e um recém-nascido são dois seres «moralmente equivalentes», na medida em que ambos estão num estádio em que apenas têm o potencial para se tornarem pessoas. Como nenhum dos dois possui consciência, as mesmas razões que justificam o aborto sustentam o infanticídio.
O argumento baseia-se num critério claramente reducionista. Basta alargar um pouco o espectro de considerações e rapidamente se extingue a condição de "equivalência" ;)
ResponderEliminarR.,
ResponderEliminarTenho tentado aclarear o meu pensamento em torno deste artigo polémico…
Repare-se: Poderemos nós dizer que, do ponto de vista das teorias da argumentação, o argumento deles é válido (sem esquecer a distância à “veracidade”)? Ou, reformulando: será que, pelo facto de o argumento se basear num argumento “claramente reducionista”, tornando-se num “perfeito abuso da dialéctica”, se pode afirmar que o artigo não deveria ter sido publicado? Quais são, então, os limites do “direito à opinião pública” ou do “exercício académico”? (e quem os determina).
Como alguém partilhou comigo: “Nalgumas sociedades é "moralmente" aceitável matar um bebé desde que a mãe não toque no filho. Noutras sociedades, caso do xintoísmo, um feto só adquire o direito à vida a partir do momento em que vê a luz. (…) Quanto à moral, muitos princípios não passam de construções humanas com o objetivo de pacificar e permitir viver em sociedade, mas mudam com alguma frequência”.
Surge daqui a questão do relativismo cultural que, cada vez mais, parece que é suficiente para se sobrepor aos direitos humanos, daí que tenha argumentado: …do ponto de vista "ético" é preciso fazer a distinção entre ética filosófica e ética médica, bem como deontologia. A crítica (pelo que tenho lido) aparece do ponto de vista moral, algo que desvaloriza uma produção teórico-académica. “Ética” e “moral” não poderão ser sinónimos para análise "bioética", bem como há outro tipo de questões que se podem discutir, dependendo se se trata de um estado laico ou teocrático...
Esta é uma excelente reflexão. Revejo-me integralmente nela e, como é apanágio das questões dilemáticas, a resposta não me parece simples e menos ainda linear. É um facto que o relativismo (universalmente instalado) é a regra, o que acrescenta uma outra questão a todas as outras: em última análise, até onde deve o relativismo imperar? Não serão as convenções, como as dos direitos humanos ou dos direitos das crianças, tentativas de balizar todo o tipo de relativismo? E será isto ilegítimo independentemente do quadro cultural ou valorativo em causa? Enfim... estou certa que a minha parca formação filosófica me impede de acompanhar a sua excelente formulação, mas estou capaz de compreendê-la e de partilhá-la.
ResponderEliminarUm abraço e obrigada por esta discussão.
R.,
ResponderEliminarMuito obrigada pela questões que aqui partilha. A questão “até onde deve o relativismo imperar?” é, para mim, muito ambígua e complexa. Por um lado, não creio que a herança de Protágoras («homo mensura»), o mesmo é dizer de um “paizinho” do relativismo, seja um bom ponto de partida para uma discussão justa -não só pelo legado andro e egocêntrico que lhe é inerente, mas também pelo mau desenvolvimento entre “veracidade” – “crença”. Por outro lado, não creio que a máxima “não há proposições verdadeiras ou falsas em absoluto - apenas relativamente”, proveniente deste tipo de pensamentos, seja um modo de balizamento de convenções como a dos direitos humanos, mas sim a anulação destas mesmas (o que acontece com a Mutilação Genital Feminina? – num quadro de relativismo cultural).
Mais uma vez, obrigada pela partilha.
O meu abraço.