sábado, 27 de agosto de 2011

"(…) sou só um cadáver vivo e que se vê sobreviver – e vivo aqui com angústias de morte" (Artaud 1942: manicómio de Rodez)


Para lá do tempo da história, do tempo do mundo, sobrevive a incondicionalidade de acolher a «indecibilidade» que "é" submeter-se a um sofrimento institucionalizado. A recusa de um «sofrer embrutecedor», nas palavras de Blanchot, traduzem(me) (a meio tom)  nas margens de um Vadio, que o suicídio "é" a declaração dramática de um «resguardo» institucional (in)suficiente. Acabará, também, por ser injusto, na (im)possibilidade de responder enquanto justo (res)guardo. E para quem ler, nestas linhas, uma «indecibilidade» como "inadaptação" ao sofrimento institucionalizado, reclamando, por isto, a "condição de possibilidade" de um "exercício" justo da própria «desconstrução», dir-lhe-ei, com Derrida: «o fundamento místico da autoridade» "só pode" ser cruel, na medida em que o paradoxo entre a «diferença» e a «presença» (também) não suporta, numa só vez, «a vida a morte».
Joel-Peter Witkin ( b. 1939)
Woman on a Table, 1987

2 comentários:

  1. A bela indecidibilidade. Por ela podemos "compreender" à nossa maneira, cada um elevar-se à sua verdade no trabalho sobre o texto. A filosofia não é mais do que uma arbitrariedade argumentada, e Derrida é um bom pharmakon para recolhermos a "segurança" da instituição académica.

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  2. Caro Dionísio,
    Muito obrigada pelo seu comentário…
    De qualquer modo não poderei deixar de referir que discordo de si. Uma (im)possível aliança que abraça "o" ler e/ou pensar e/ou escrever não passa por elevar uma "verdade" autónoma sobre o texto (lá está o velho legado da aletheia a falar "por" si)… Não poderei cair em tentação de ouvir a teoria da interpretação de texto desde Scheleiermacher ou até ao ciclo hermenêutico de Gadamer enquanto "verdade lógica" - enquanto tautologia (se assim quiser)… "Interpretação de texto" não traduz "a" «hospitalidade incondicional» e esta, não se confunde, certamente, com a projecção de um imperativo categórico. Não percebo em que sentido poderá "reduzir" «as» «filosofias» a uma arbitrariedade argumentada?!?! Sim, é preciso pensar com Derrida, dado que: «"Desconstruir" a filosofia seria, assim, pensar a genealogia estrutural de seus conceitos da maneira mais fiel, mais interior, mas, ao mesmo tempo, a partir de um certo exterior, por ela inqualificável, inominável, determinar aquilo que essa história foi capaz – ao se fazer história por meio dessa repressão, de algum modo, interessada – de dissimular ou interditar.» (Derrida, J., Positions). Sim, Derrida "seria" um bom «pharmakon»: «Derrida é um bom pharmakon para recolhermos a "segurança" da instituição académica», não para recolher a "segurança", mas sim, para que a dita instituição académica afaste a noção de «pharmakon» enquanto figura que estabelece a diferença entre a escrita e a fala (Jacques Derrida: «Rhétorique de la drogue». Paru dans Autrement, série «Mutations», n° 106: L’esprit des drogues? dirigé par J.-M. Hervieu, Paris, avril 1989). O «pharmakon» da escrita fonocêntrica é também o da instituição: lamentavelmente…
    Atenciosamente, a Nyx.

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