"Nós devemos ser santos para não criar a contradição entre o símbolo que somos e a realidade que queremos significar".
Permito-me uma pequena «chamada de atenção» em apenas dois pontos, pois parece-me que a idade já anda a deixar o senhor Ratzinger um pouco confuso:
i) Redução substancial dos que podem "ascender" a "santos":
Sendo o objectivo da «Humanidade» a procriação (ou "dar à luz", se o termo anterior for excessivamente agressivo), mote típico que condena desde o casamento entre pessoas do mesmo sexo até à prática do aborto, e encontrando-se o sacerdócio vedado às mulheres (polémica que colocou já o senhor Policarpo na linha de fogo do Vaticano) restar-nos-á, então, uma pequeníssima percentagem de homens que poderão "dar corpo à palavra de Deus". (Deduz-se daqui que se deve seguir o mandamento "Amarás o teu próximo como a ti mesmo." mas nada de extravagâncias, no que toca à "santificação" não sejamos abusivos, ficamo-nos por uma pequena elite devidamente seleccionada e acabam-se as brincadeirinhas do "como a ti mesmo"!)
ii) Limitação da acção por insuficiência do modelo epistemológico:
Subentende-se, na afirmação papal, uma relação unívoca entre significante e significado, entre o símbolo e a realidade que se quer significar, sendo Deus a realidade última. Ora, talvez o excelentíssimo não tenha ponderado seriamente nesta proposição, pois a tal pequena percentagem de homens que poderão ascender a santos serão símbolos da realidade que se quer significar mas, para a significarem, de acordo com o paradigma cognoscente aqui em causa, será imperioso um conhecimento prévio dessa mesma realidade mas (ups!) a Igreja defende que Deus é incognoscível! Parece-me que caímos numa hermenêutica bíblica consideravelmente subjectivista, movida pelo desejo cobiçante de "igualar", simbolizando, o Deus todo-poderoso! (Então e o mandamento "Não cobiçar as coisas do outro."?!)
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