sábado, 25 de fevereiro de 2012

[poderia ser um filme de terror...]

"Tiro certeiro, mas não fatal. Estirado no chão, o veado mexe as pernas. Miguel Cortes pousa a carabina e grita para o matilheiro que está mais perto do animal: "Pega a faca e faz o remate. Ele está à tua direita, a uns 50 metros." O estrondo fica nos ouvidos e o cheiro a pólvora permanece no ar.
[...]
Andam 400 cães no terreno, agrupados em 16 matilhas.
[...]
Ao longe, veados e gamos fogem dos cães, aos saltos por entre a esteva.
[...]
Miguel aponta, coloca o dedo no gatilho, mas logo desiste. "Não é um troféu, é muito novo, deve ter uns três anos, se tanto." Os caçadores estão nesta montanha pelos troféus. Os melhores "são os mais velhos, com seis, sete anos." A idade vê-se pelo número de pontas nas hastes.
[...]
"Se o bicho não morrer, se ficar ferido, tenho de ir lá com esta faca para fazer o remate, bem no meio do coração." "Ficou ficou, mas ainda está vivo", responde o outro.
[...]
Cada caçador pode matar três animais: dois veados e um gamo ou dois gamos e um veado (os javalis não entram na contagem, podem ser abatidos sem limites).
[...]
Abater as fêmeas é proibido, essa é outra das regras. (...) "é uma forma de manter de garantir a continuidade das populações." A exceção é permitida só no fim da temporada, em finais de fevereiro, por altura do levantamento dos animais: "Todos os anos os contamos. Devemos ter entre 300 e 400 cabeças. Se tivermos muitas fêmeas, então sim, abatemos algumas."
[...]

Legenda de uma das imagens: "Depois de abatidos, os animais são levados para a casa da herdade, onde são expostos no chão, em fila, para serem desmembrados.

[...mas são apenas excertos das 4 páginas da «Grande Reportagem: Um desporto para elites», expostas no Diário de Notícias, pp. 4-7]

DO SENTIMENTO DE REVOLTA À LATÊNCIA INCRÉDULA, APENAS (ME) QUESTIONO - QUANDO ACABARÃO COM ESTE TIPO DE ATROCIDADES?!?

3 comentários:

  1. Uma leitura que me satisfez, um blogue a acompanhar. Com gosto.

    Bj

    ResponderEliminar
  2. Fico muito contente pelo seu comentário (e fico igualmente feliz sabendo que mais alguém se deixa "tocar").

    Um abraço.

    ResponderEliminar
  3. Boa questão. E a essa acrescentaria uma outra: quais "elites"? Não caberão noutro tipo "elite" para além da socioeconómica? Tenho cá as minhas suspeitas...

    ResponderEliminar